A rua era de terra barrenta e perfumada, doce depois da chuva, mas não húmida. De ambos os lados havia casas de meretrizes cujos corpos, de um mármore comovente, se conservavam modestamente postados diante das respectivas portas, como no limiar de um santuário. Sentavam-se em tripeças, colocadas em plena rua, como as pitonisas, os pés ocultos nas pantufas de cor viva. A originalidade da iluminação dava a toda a cena as tintas de uma fábula eterna: em vez de ser iluminada do alto, toda a rua recebia a luz de uma série de lâmpadas de carbureto, de chama radiante, pousadas no chão, lançando irreais sombras violeta nas esquinas e sobre as empenas dessas casas de bonecas, nos olhos e nas narinas das locatárias, na submissa doçura dessas dessas trevas de forro de casaco. Eu percorria lentamente esse extraordinário jardim de flores humanas, pensando que uma cidade, tal como uma pessoa, reúne as suas predisposições, os seus apetites e os seus temores. Cresce para maturidade, produz os seus profetas, declina na senilidade, na velhice ou na solidão, que é ainda a pior de todas as coisas. Inconscientes de que a cidade está moribunda, os vivos continuam a sentar-se nas ruas, como cariátides sustentando a noite, com as dores do futuro pintadas nas pálpebras; observando insones os caçadores de imortalidade, através de toda a fatídica extensão do tempo.

Lawrence Durrel, Justine, D. Quixote, 2012

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