Poderia ter
escrito a tremer de respirares tão longe
Poderia ter
escrito com o sangue
Também poderia
ter escrito as visões
Se os olhos
divididos em partes não sobrassem
No vazio da
ceguez
E luz.
Poderia ter
escrito o que sei
Do futuro e
de ti
E de ter
visto no deserto
O silêncio, o
fogo, o dilúvio.
De dormir
cheio de sede e poderia
Escrever
O interior do
repouso
E ser faúlha
onde a morte vive
E a vida
rompe.
E poderia ter
escrito o meu nome no teu nome
Porque me
alimento da tua boca
E na palavra
me sustento em ti
(inédito)
Daniel Faria, in Poesia, Assírio & Alvim (edição de Vera Vouga)