POEMAS DE AMOR, 13 

Primeiro está a solidão.
Nas entranhas e no centro da alma:
que é a essência, o dado básico, a única certeza:
que só a tua respiração te acompanha,
que sempre bailarás com a tua sombra,
que essa treva és tu.
Teu coração, esse fruto perplexo, não tem que azedar-se com a tua sina
                                                                                                               solitária;
Deixa-o esperar sem esperança 
de que o amor é uma dádiva que um dia chegará só por si.
Mas primeiro está a solidão, 
e tu estás só,
estás só com o teu pecado original - contigo próprio- .
Acaso uma noite, às nove, 
aparece o amor e tudo estoira, e algo se ilumina dentro de ti,
e tornas-te outro, menos amargo, mais feliz:
mas não te esqueças, especialmente então, 
quando o amor chega e te calcina,
que primeiro e sempre está a tua solidão,
e logo nada
e depois, se houver de chegar, está o amor. 

Darío Jamarillo Agudelo, in Um País que Sonha. Cem anos de poesia colombiana (1865-1965), Assírio & Alvim, 2012 (selecção de Lauren Mendinueta e tradução de Nuno Júdice)

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