O amor. Aprender a gostar da própria solidão. Saber retirar-se num rochedo que preserva a ternura. Iludir a dependência para que a posse se torne ecrã de transparência. Amar é celebrar permanentemente o encontro de duas solidões, festejar a sua revelação quotidiana, a sua possível fragmentação na morte, na poesia. Saber-se abandonado pelas estrelas e pelas ondas; viver o amor, a amizade, numa ternura passional. As mulheres de Tetuão, infelizmente, só conhecem a espoliação. A sua essência feminina perde-se nas imagens que os homens tiveram a gentileza de forjar para elas. Eis a razão pela qual as mulheres de Tetuão se retiram, sem fazer barulho, sem quebrar o que quer que seja, na súmula das suas solidões. Os homens tornam-se matéria que se desintegra nos cafés ou clubes masculinos (casinos espanhóis) onde, para se embriagarem sem serem vistos, descem à cave. Falam até perderem a saliva; caem em montículos de areia branca ao lado do seu tamborete; à noite o empregado do café recolhe-os em pequenas alcofas e vai colocá-los à porta de suas casas. As mulheres dormem. Ausentam-se para sonhar.
Tahar Ben Jelloun, "As raparigas de Tetuão", O Primeiro Amor é Sempre o Último, Quidnovi, 2012 (tradução de Ana Tavares)
"Amar é celebrar permanentemente o encontro de duas solidões (...)"
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