Lambe-te o fogo cada ruga e pêlo,
e a água onde mergulhas logo encerra 
em fresca e fina luva o corpo inteiro 
e sem pudor algum te abraça e beija. 
Mesmo o vulgar sabão, no tanque absorto, 
pela nudez da carne se insinua 
e entre as coxas flutua, como um peixe 
mais branco, que outra sombra continua. 
Mas eu, quando me cubro do teu rosto 
e sou somente de água e fogo feito, 
melhor ainda te conheço e quero, 
e nada no teu corpo me é alheio: 
em cada grão de pele te desejo, 
em cada ruga leio o meu destino. 

 António Franco Alexandre

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