LITTLE GIDDING


III
Há três condições que muitas vezes se confundem
Mas que diferem completamente e vicejam na mesma sebe:
Apego a si próprio e a coisas e a pessoas, desapego
De si próprio e das coisas e das pessoas; e, crescendo entre 
ambos, a indiferença
Que se assemelha às outras como a morte se assemelha à vida,
Estando entre duas vidas, a desflorir , entre 
A urtiga viva e a urtiga morta. Este é o uso da memória:
Para a libertação- não menos amor
mas alargamento do amor para além do desejo, e assim libertação 
Do futuro tal como do passado.  Assim o amor por um país
Começa como apego ao nosso campo de acção
E acaba por achar essa acção pouco importante
Embora nunca indiferente. A história pode ser servitude,
A história pode ser liberdade. Vê, agora desaparecem,
Os rostos e os sítios, com o ser que os amou como pôde, 
Para ficarem renovados, transfigurados, num outro padrão. 
O pecado é-nos Próprio, mas 
Tudo há-de ficar bem, e
Toda a espécie de coisa há-de ficar bem. 
Se penso, de novo, neste lugar, 
E em pessoas, não inteiramente recomendáveis,
Sem linhagens nem gentileza claras,
Mas algumas de um génio peculiar,
Todas com um toque de um génio comum,
Unidas na contenda que as dividia;
Se penso num rei ao anoitecer,
Em três homens, e mais, no cadafalso
E alguns que morreram esquecidos
Em outros lugares, aqui e lá fora,
E num que morreu cego e calmo, 
Porque haveríamos de comemorar
Estes mortos mais do que os moribundos?
Não se trata de tocar o sino a anunciar o passado
Não se trata de um encantamento 
Para conjurar o espectro de uma Rosa.
Não podemos  restabelecer velhas políticas
Ou seguir um antigo tambor. 
Estes homens a quem eles se opuseram
Aceitam a constituição do silêncio
E estão agrupados num único rebanho.
Seja o que for que herdemos dos que prosperam
Já recebemos dos derrotados
O que tinham para nos deixar - um símbolo:
Um símbolo aperfeiçoado na morte.
E tudo há-de ficar bem e
Toda a espécie de coisa há-de ficar bem
Pela purificação do motivo
No solo da nossa súplica.

T.S. Eliot, in Quatro Quartetos, Relógio d'Água, 2004, or. 1944 (tradução de Gualter Cunha)


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