Naquele instante
Amor só vem mais tarde, amar
só vem depois, amor é quando

tudo se foi, virá no próximo
trem, talvez no ano que vem

tudo será, por ora, pressentimento,
presságio, bilhete em branco do bem
gratuito para depois de gastos vultuosos
tributos de desamor e de nada.

Amarmos começa no fim? Amor
se escreve ao contrário? Roma,
porém, não abrirá palácios senão,
quem sabe, no próximo feriado.

Moroso, é após tudo pronto
o amor quando, tardiamente,
já não damos por nada ou
damos só tempo ao tempo.





Eucanãa Ferraz, in Sentimental, Companhia das Letras, 2012

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