POEMA PARA LEMBRAR ALICE NO ESPELHO
Aqui no lendário e no real
A nossa história resulta semelhante
À dessa maravilhosa rapariga que penetrou no espelho
Esteve sempre à beira de desaparecer
Mas ninguém pronunciou a fórmula que a devolveria ao pó
Nem Tweedlerdum nem Tweedledee nem a Rainha nem o Rei de Copas
Que não tinha nada para fazer senão acordar
Talvez sejamos um conto
Talvez sem que nunca nos acautelemos
A nau de Ulisses
Ou o rouxinol de Keats
(Esse pássaro não destinado à morte)
Digamos então que foi um canto da Odisseia
Continuará sendo nós
Sem deixar por isso de ser o país das maravilhas
E alguém poderá reconhecer-nos
Ao ouvir esta história ainda não escrita
Na história castelo a história lua múltipla
Na história brinquedo destruído
A história enfim quando passou uma nuvem sobre Alice
Talvez sejamos a sombra desse azul na sua mão
Giovanni Quessep, in Um País que Sonha. Cem anos de poesia colombiana (1865-1965), Assírio & Alvim, 2012 (selecção de Lauren Mendinueta e tradução de Nuno Júdice)
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