CORPO
Uma manhã, olhos grandes. À tarde, boca disforme. Não é só à noite que se vêem pêlos em todo o lado.
Quem nunca foi o lobo mau?
Única linha que não foge, o contorno. Matéria. Diferente de etéreo. Carne, pele, alimento na cadeia das espécies.
Quem quer comer-nos?
Captável, fotografável, pintável. Matéria, sim. Não material. Não se pode trocar. Não serve para comprar. Só para vender.
Quem se dá o seu o valor?
Suave. Seco. Quente. Fértil. Áspero. Perfeito. Estéril. Irregular. Húmido. Líquido. Ilha habitada por dez estações.
Quem não sabe navegar?
Divindade. Sagrado palpável. Deus ao toque, condenado pelos toques. Singularíssimo, manhã única com circulação própria. Ecossistema amoroso.
Quem não abdicou de adormecer?
Passos que podem dançar, gestos que podem amar. Traços cobertos, a mudar pudicamente. Vergastadas inscritas à vista de todos, sem misericórdia. Tempo e espaço subtis, mas andantes.
Quem se consegue parar?
Princípio. Fim. Monstro mutante. Fantasma teimoso. Brincadeira tão séria. Piada com graça, desgraça. Palhaço do interior. Traidor. Amador.
Quem pode esconder o riso?
Bicho solitário, imprevisível, coisinha grandiosa. Soldado oriental, procura honradamente amigar-se com o inimigo. Mas força e consciência desencontram-se nele.
Quem conhece a sua morte?
Sem comentários:
Enviar um comentário