Fernando Lemos, 
colecção do CAM, 1949-52

Para que ela tivesse um pescoço tão fino
Para que os seus pulsos tivessem um quebrar de caule
Para que os seus olhos fossem tão frontais e limpos
Para que a sua espinha fosse tão direita
E ela usasse a cabeça tão erguida
Com uma tão simples claridade sobre a testa
Foram necessárias sucessivas gerações de escravos
De corpo dobrado e grossas mãos pacientes
Servindo sucessivas gerações de príncipes
Ainda um pouco toscos e grosseiros
Ávidos, cruéis e fraudulentos
Foi um imenso desperdiçar de gente 
Para que ela fosse aquela perfeição
Solitária, exilada, sem destino.

Sophia de Mello Breyner Andresen, in Dual (VI), Moraes Editores, 1972


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