O Inverno não é tempo para perder.
Largar alguém. Mas quem?
Esquecer o seu riso e o seu choro, como se nunca tivesse nascido. Esse.
Executar uma amputação, sem perder de vista os afazeres quotidianos.
Planear uma matança, impune e logicamente repartida pelas horas normais.
Morte da vida alheia, da minha, de qualquer coisa que se formou entre elas, como aquelas bolas que cruzava na primária e que me ensinaram a chamar “conjuntos”.
Os dias são pequenos e ventosos e cada hora avança mais rápido para a escuridão.
Expor o corpo esfacelado a tudo, até que o sangue deixe de circular, exigia maior bonomia do ambiente exterior. Mas tudo é gelado. Os arrepios são constantes e, para piorar as coisas, nada disto é uma sala de operações. A matéria dos minutos é fria como o metal das marquesas. Há uma luz fortíssima sobre os meus olhos, que cega. Só não há anestesia.
E o Inverno, o Inverno castiga. Tempo absurdo, de vertigem para a negritude, onde a termómetro se põe de acordo com o céu, mas comigo não.
Uma ideia fria: a sinceridade emigrou. Nada mais nos diremos nesta terra. Nem mesmo quando a Primavera voltar.

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