POESIA
Não te devolverá o que te tiraram
-pessoas, paisagens, comboios, noites, dias -
mas dará nome àquilo que se foi
e haverá menos silêncio nas tuas mãos vazias.
Não serás mais feliz por estares com ela,
se calhar mesmo nada quase sempre,
mas não deixará, como o irmão bom,
de te murmurar cúmplice que se aprende com a dor.
Não te defenderá de quem te humilhar,
não apagará a sombra das dúvidas,
estará apenas ali, com a sua parca presença,
pondo letra em cada música triste.
Quem sabe se vais preferir não ter
nada a ver com essa forma rara
que te ensinou o teu pai de não dizer as coisas
ou de dizer as coisas com muito poucas palavras.
Ángel Mendoza, in Criatura 6, 2011 (tradução de Inês Dias)
Sem comentários:
Enviar um comentário