IDÍLIO NO CAFÉ

A mim pergunto se durante a vida inteira
estivemos aqui. Ponho, agora mesmo,
 a mão diante dos olhos - que latejo
de sangue em minhas pálpebras-e os pêlos
imensos confundem-se em silêncio,
com o olhar. Pesam as pestanas.
Não sei bem do que falo. Quem são,
rostos vagos a nadar como numa água pálida,
estes aqui sentados, viventes connosco?
A tarde empurra-nos para certos bares
ou entre homens cansados de pijama.

Vem. Vamos lá para fora. A noite. Há espaço
em cima, mais em cima, muito mais do que as luzes
que às rajadas iluminam os teus olhos dilatados.
Entre nós, também silêncio fica
silêncio
                e este beijo como um longo túnel.

Jaime Gil de Biedma, in Antologia Poética, Edições Cotovia, 2003 (tradução de José Bento)

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