Há um conto de Tolstoi que diz que o homem só precisa de sete palmos de terra para se cobrir. Precisa dessa terra, que é a sua inscrição. O acaso do nascimento, que é pura contingência, é qualquer coisa que nos adjectiva. Uma pessoa que nasce num país, que tem uma língua secular, que tem uma história singular, tem uma segunda ou primeira natureza, na qual se define ou ela nos define a nós. E mesmo quando se tem, como eu, uma grande permanência num país que não é o nosso, há um momento ou outro em que a palavra que não se percebeu permite saber que não estamos em nossa casa. O que define realmente as pessoas é o não-dito. Tudo o que é explícito pertence à ordem do que é intercomunicável.

Eduardo Lourenço, em entrevista à Actual  Expresso, 23 Dezembro 2011

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