A imaginação ergue o seu espelho de fábulas à altura do mundo e desenvolve-lhe a expressão do trágico, nesta era embalada no podre fascínio da antecipação, da paralisante expectativa: ali fica, caída, num sono sem sonhos e, fria, treme de uns delírios inconsequentes.
Há que perder a razão, sufocá-la. Agitar a coisa junto ao ouvido, escutar o seu som e chocalho. Quebrá-la como se quebra um mecanismo para lhe sacar um segredo, a atroz simplicidade que a faz funcionar. Guardar a chave do ritmo e regressar à invenção. 
Continua. A escrita serve o encanto. A si, serve-se de uma furiosa atenção e recompõe melodiosamente o mundo, encontra nele uma cadência pessoal.
A um tempo mágica e absolutamente ingénua, de um passo certo a outro sem medida, a criatura move-se entre um delicioso pudor e um maravilhoso atrevimento, sem ter a quem numa hora, para na seguinte ter quem quiser. 

Nota introdutória da Criatura 6, 2011

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