Jamais vos esquecerei mulheres raparigas - efémeras
entrevistas subitamente no meio da multidão na escadaria no mercado
no dédalo do metro
nas janelas dos automóveis
- com clarões de calor
- presságio de bom tempo
- como uma paisagem embelezada pelo seu reflexo no lago
- como uma aparição no espelho
nos esponsais daquilo que é
e daquilo que é apenas pressentido
- no baile
quando a orquestra deixa de tocar
e a aurora coloca nas janelas
círios por acender
jamais vos esquecerei - fonte pura de alegria - vivi também graças aos
vossos olhos de corça
graças às bocas que não eram minhas
às mãos castanho-amareladas que escolhiam como se estivessem acariciando
peixes de prata
pequena rapariga das Antilhas é de ti que me lembro melhor
não te vi senão uma só vez chez le marchand des journaux
olhei-te mudo retive a respiração - para não te assustar
e durante um instante pensei que - caminhando contigo
teríamos mudado o mundo
Jamais vos esquecerei -
o movimento aturdido das pálpebras
a indescritível inclinação da cabeça
o ninho da palma
na minha memória fiel repito
rostos imutáveis místicos sem nome
e a rosa
nos cabelos negros
Zbigniew Herbert
(tradução de Jorge Sousa Braga)
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