Nada rasga o céu. Nós é que somos feitos de papel. Pelas esquinas encontro restos de prostitutas. Uma delas pede-me trinta cêntimos. Espanto-me com esta contabilidade organizada que estipula tão rigorosamente a medida das coisas não vividas. Cêntimos. Trinta. Oiço o metal dos corpos, é outra gente que acorda arrastando ferros bicudos por dentro. São poucos e não se chegam. Saem sozinhos. Olham para cima. Naquele momento consolam-se na vitória sobre os recolhidos, massa silenciada que reza hábitos pequenos atrás das cortinas. A natureza, quase cínica, um pouco má, como uma mulher espantosa que invade um hospício. Volúpia que amanhece, exército de escuridão rendido, água, vento e terra. Nós, sonhos e pressas a bater baixinho, apenas uma insuficiência cardíaca, hoje excepcionalmente em posição de descanso.
sou uma folha de papel. não me rasgues, escreve sobre mim.
ResponderEliminarJ.