QUASE OBSCENO

Se quiseres ouvir o que me digo na almofada
o rubor do teu rosto será a minha recompensa
São palavras tão íntimas como a minha própria carne
que padece a dor da tua implacável lembrança

Conto-te Sim? Não te vingarás um dia? Digo-me:
Beijaria essa boca lentamente até a tornar vermelha
E no teu sexo o milagre de uma mão que desce
no momento mais inesperado e como por acaso
o toca com esse fervor que inspira o sagrado

Não sou malvado Trato de te enamorar
Tento ser sincero com o doente que estou
e entrar no malefício do teu corpo
como um rio que receia o mar mas acaba por morrer nele.

Raúl Gómez  Jattin, in Um País que Sonha. Cem anos de poesia colombiana (1865-1965)Assírio & Alvim, 2012 (selecção de Lauren Mendinueta e tradução de Nuno Júdice)

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