Quando os motores dos aviões param por avaria, isso não é o fim do mundo. Os aviões não caem do céu como pedras. Os enormes aviões de passageiros, com vários motores, continuam a deslizar durante meia hora ou três quartos de hora para depois se esmagarem ao tentarem aterrar. Os passageiros não notam nada. Voar com os motores parados não parece diferente de voar com eles a funcionar. É mais silencioso, mas só um pouco mais silencioso: mais barulhento que os motores é o vento que se quebra na fuselagem e nas asas. Num momento qualquer, ao olhar pela janela, a terra ou o mar estão ameaçadoramente próximos, a não ser que as hospedeiras e os hospedeiros tenham fechado as cortinas para pôr um filme a correr. Talvez os passageiros sintam que esse voo, um pouco mais silencioso, é especialmente agradável.
Aquele Verão foi o voo planado do nosso amor. Ou melhor, do meu amor por Hanna; não sei nada sobre o amor dela por mim.
Bernhard Schlink, O Leitor, Asa, 1998 (tradução de Fátima Freire Trindade)
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