Creio ter reparado em Sarah, porque ela era feliz; nesse tempo, o sentido de felicidade ia desaparecendo na tormenta que se aproximava. Encontrava-se nos bêbados e nas crianças, e raras vezes alhures. Simpatizei logo com ela, porque me disse ter lido os meus livros sem os misturar com a pessoa - e logo me senti tratado mais como um ser humano do que como um escritor. Não fazia a mínima ideia de me apaixonar por ela. Antes de mais nada era bonita, e mulheres bonitas, especialmente se ainda são inteligentes, provocam-me um agudo sentimento de inferioridade. Não sei se os psicólogos já classificaram o complexo de Cophetua, mas, pela minha parte, sempre senti dificuldade em experimentar desejos sexuais , sem a consciência de uma qualquer superioridade física ou mental. Dessa primeira vez, só reparei na beleza, no ar feliz, e na maneira, que ela tinha, de nos tocar como se nos amasse.

Graham Greene, O Fim da Aventura, Asa, 1995 (or. 1951), tradução de Jorge de Sena (de acordo com 2ª edição de Estúdios Cor, 1958)

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