FRIO

Chove
          em metade da noite,
como se ainda fosse possível mais escuridão.

Consigo ouvir a água que arranha os telhados
e transforma as ruas
                              em grandes veias negras.

Lentamente, aproximo-me da janela e apenas encontro escuridão
                               e água:

o fundo de um oceano.

No entanto,
é tudo tão belo e estranho
-lembras-te?-
como roçar a pele de um tubarão.

Para quê dar um sentido a cada coisa?

A noite e a sua hemorragia incontível, por exemplo.

Sei que a água é um vínculo
entre mim e ti,
e que o sol de amanhã mostrará com orgulho

                        a enorme cicatriz do horizonte.

Mas terá de ser amanhã
porque se não houver amanhã nada importa.

Josep M. Rodriguez, in A Caixa Negra, Averno, 2009 (tradução de Manuel de Freitas)

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