SONETO VÍVIDO

O meu amor por ti assombra os astros
da noite escassa para o nosso amor. 
Soneto vívido de versos castos, 
no desgaste da boca um som de flor.

E no engaste do teu sexo, uma rima
a completar corpo comum de dois,
substantivo ou canção que nos ensina
a fabricar na pele ethéreos sóis.

Nas mãos, ainda, a ternura extensa
certeira se dilui nos alvos rubros
e o riso se pratica a comer uvas.

O meu amor por ti marca presença:
dormimos viagens, e os teus ombros cubro-os
temendo, dêste inverno, as ígneas chuvas.

António Barahona, in Raspar o Fundo da Gaveta e Enfunar uma Gávea, Averno, 2011

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