Sofistico as memórias: sei que não deliro quando nos oiço música.

Mas o assalto é urbano e vem de perto. Agiganta-se um ser contorcido, que chove imenso, de pura dor. Desmancho-me por ele. Às vezes somos tão parecidos. Não aguento a indiferença dos automóveis que o esmagam e as buzinas lembram-me de ti: não são como nós, notas e cordas, infinitos. Por dentro, tudo é líquido: secreções e lágrimas. No interior da selvajaria é que está esta dor, preclaramente irracional, expressando-se em sons primitivos e calados, uivos de nomes impronunciáveis.

Sofistico as memórias: vejo a claridade que inventaste para mim.

Mas deito-me com o escuro. Não decidirei por muito mais tempo caminhar para longe. É a medida de um sonho que não poderei contar-te. Conservo instintos, às vezes sou só este terror de atravessar o asfalto riscado com a imponderabilidade de tudo.  

Sofistico as memórias: moves-te à velocidade da minha ternura.

De cabeça pousada ao lado do animal ferido, percebo que ele não entende a frase: não se morre moderadamente. É espantoso como somos tão diferentes. 


De resto, sou bastante o teu nome, límpido, sobre fundo branco: o futuro. 

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